Por Davi Caldas

Muitas pessoas acreditam que a marca da besta, mencionada em Apocalipse 13:16-18 é um micro chip que será implantado na mão ou na testa das pessoas. Não há razões plausíveis para se crer nisso. Primeiro, porque um micro chip não representa um pecado em si mesmo. A Bíblia deixa claro que receber a marca é um pecado e quem a receber não entrará no reino dos céus. Então, a marca precisa ser algo pecaminoso em si mesmo.

Segundo, porque o fato de eu ter um micro chip na testa ou na mão não diz absolutamente nada sobre meu relacionamento com Deus e minha fidelidade. Podemos imaginar sem dificuldades alguém que tivesse recebido o chip crendo em Cristo, vivendo uma vida reta, se negando a prestar culto a outros deuses e até morrendo por amor a Ele.

Penso que o micro chip aqui é o análogo de um marca-passo. Será que ter uma marca-passo implantado no corpo impede uma pessoa de ser um cristão genuíno e morrer por Cristo? Não. Não tem nada a ver. Então, qual é a relação entre “chip” e “ser um verdadeiro adorador” ? Nenhuma. Aliás, um micro chip não tem poder de obrigar ninguém a deixar de seguir a Cristo, ou a se curvar diante de outro deus. Um micro chip só tem poder de localizar uma pessoa, ou de servir como um documento único de identificação. Mais nada.

Terceiro, uma vez que o micro chip não é um pecado em si mesmo e que não tem relação alguma com nossa fidelidade a Deus, torna-se duvidoso que seja realmente a marca da besta. É pouco provável que Deus permitiria que algo que gera dúvidas se tornasse uma provação para o seu povo. As coisas de Deus são claras. Sabemos exatamente o que é certo e o que é errado fazer. Então, devemos esperar que a marca também seja algo que não deixe dúvida alguma.

Finalmente, é uma regra básica de interpretação da Bíblia procurar respostas para suas profecias primeiramente na própria Bíblia. Então, antes de apelar para o micro chip, o que será que a Bíblia diz que pode nos ajudar a entender mais sobre a marca da besta? Vamos ver isso. Mas antes, pense comigo: para que serve uma marca? Bom, uma marca serve para identificar a quem pertence determinado objeto ou ser.

Os fazendeiros, por exemplo, marcam seus cavalos, bois e vacas com a inicial de seus nomes. A marca serve para mostrar a todos que aquele animal pertence a determinado fazendeiro. Quando vou ao mercado e compro um biscoito da Piraquê, a marca Piraquê indica que aquele biscoito pertence à empresa Piraquê. Entendido isso, podemos dizer que a marca da besta tem como objetivo identificar que uma pessoa pertence a besta.

Agora, entramos na Bíblia. Em Apocalipse 7:1-3 e também 9:4, lemos que existe um selo de Deus e que antes do fim, os servos de Deus serão selados na fronte. Um selo é uma marca. Tem o mesmo objetivo: identificar a quem pertence determinado ser ou objeto. Então, temos em Apocalipse um selo que identifica que uma pessoa é serva de Deus e uma marca que identifica que uma pessoa é serva da besta. O selo se opõe à marca. A marca é uma falsificação do selo. Mais uma razão para não crermos que a marca é um chip. A falsificação deve ser semelhante ao original, mas diferente. Então, a marca deve ser semelhante ao selo de Deus. Mas o que são o selo de Deus e a marca da besta?

A passagem de Ezequiel 9:3-11 nos ajuda a entender melhor. Ela narra uma visão que o profeta teve em que Deus dizia a ele para marcar com um sinal na testa as pessoas que suspiravam e gemiam por conta das abominações que se faziam em Israel. Ou seja, os servos de Deus. Todas as pessoas que não fossem marcadas com o sinal de Deus seriam mortas. E assim se fez na visão do profeta. Tratava-se de uma alegoria, que exortava o povo a abandonar seus graves pecados e serem servos de Deus. O que é importante nesse texto é a menção ao sinal. O sinal serve, no texto, para identificar quem pertence a Deus. Interessante, não?

Pergunto: qual é a melhor maneira de você demonstrar se pertence a Deus ou não? Através dos seus atos. Jesus diz que árvores boas dão bons frutos, árvores maus dão maus frutos (Mateus 7:15-23). Diz também que quem o ama, guarda os seus mandamentos (João 14:15 e 21). Tiago afirma que a fé sem obras é morta (Tiago 2:14-26) e que os mandamentos morais de Deus continuam valendo (Tiago 2:8-12). Paulo oferece duas vezes uma lista de pessoas que não entrarão no céu, caso não se arrependam e larguem suas más obras (I coríntios 6:9-10; Gálatas 5:19-21). Consta na lista homicidas, adúlteros, beberrões… Enfim, pessoas que transgridem a lei moral de Deus.

Continuando a saga, em Apocalipse 12:17 e 14:12 somos informados que o povo de Deus, que é perseguido por Satanás, se caracterizado por aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”. João diz que quem afirma conhecer a Cristo, mas não guarda seus mandamentos, é mentiroso (I João 2:4-6). O mesmo João define pecado como “a transgressão da lei”, ou, no original grego, “anomia” (I João 3:4). Paulo diz que somos salvos pela graça e criados em Cristo para praticar boas obras (Efésios 2:8-10). Em suma, nossos atos testificam se somos servos de Deus ou não.

É plausível inferir, portanto, que o selo de Deus é uma postura que envolve guardar os mandamentos morais de Deus, enquanto que a marca da besta é uma postura que envolve transgredir os mandamentos morais de Deus.

Aqui as coisas ficam interessantes. Por quê? Porque na Bíblia há dois exemplos de decretos governamentais que ordenaram às pessoas a quebrarem um mandamento de Deus. O primeiro decreto está em Daniel 3. Neste capítulo vemos que o rei babilônico Nabucodonossor constrói uma estátua gigante de si mesmo e ordena que todos se prostrem diante dela e a adorem. Três amigos de Daniel resolvem não fazer isso, pois atingia diretamente dois mandamentos de Deus: Não adorar outros deuses e não adorar imagens (Êxodo 20:3-6). Como resultado foram condenados à morte pela fornalha de fogo (mas, foram milagrosamente salvos por Deus).

O segundo decreto está em Daniel 6. O rei Dario ordena que durante um mês todas as orações do povo não fossem feitas a nenhum deus, mas apenas ao próprio rei. Daniel resolveu não respeitar o decreto, pois atingia os mandamentos de adorar apenas a Deus (Êxodo 20:3-6). Como resultado, foi condenado à morte em uma cova de leões (mas, foi milagrosamente salvo por Deus).

Então, perceba: em dois casos, governos imprimiram decretos que impunham ao povo uma prática que era contrária a um mandamento moral de Deus. Ou seja, o decreto era, indubitavelmente, contrário à lei de Deus. Era pecaminoso em si mesmo. Podemos dizer que, nesses casos, cumprir o decreto era receber a marca do governo. Descumprir o decreto era honrar a Deus, recebendo assim o selo, ou sinal de Deus. Marca, selo e sinal são símbolos de posturas. Nossa postura define a quem nós pertencemos.

A marca da besta não será um chip, amigo. Seguir a Deus será muito mais difícil do que meramente deixar que coloquem em você um micro chip. Isso é fácil. A marca da besta será uma atitude, imposta por lei, que se for cumprida, transgredirá diretamente um mandamento moral de Deus. O selo de Deus é a atitude oposta, de cumprir os mandamentos de Deus mesmo quando isso significa infringir um decreto humano e ser condenado.

Mas qual exatamente será o decreto? Que mandamento de Deus será infringido por esse decreto? Eu sei a resposta. Ela está na Bíblia, como sempre. Mas isso fica para outro post.