Por Patrike Wauker

Não concordo em discutir com xingamentos. Não acredito que xingar pode ser algo cristão. Simplesmente não o é. Mesmo assim tenho que admitir que o vídeo em que Nando Moura comenta o caso da cantora Daniela Araújo é uma preciosidade para o atual mundo cristão. Nando Moura nos faz olhar além deste caso específico, mostrando que o cristianismo que temos hoje não envergonha apenas pelas ações escandalosas, mas pelas ações que ninguém nota serem ruins.

A ação da Daniela Araújo de pedir drogas é algo que não deveria existir na vida do cristão, ou na vida da igreja atual, mas existe. Quando esse fato foi levado à luz, todos se sentiram ofendidos, pois esse pecado é fácil de ser notado. Mas o que dizer de pecados que envergonham o nome de Deus, que fragilizam o cristianismo, e que ninguém nota? Os pecados são piores pecados quando não mais nos assustam. Um erro que talvez não seja pior, mas que com certeza é mais perigoso que o da Daniela, é a ânsia da igreja moderna de tentar agradar o mundo.

Hoje em dia ninguém mais discorda de que “o cristão deve agradar o mundo”. O evangelismo, por sinal, tornou-se uma forma não de exaltar Cristo para o mundo, mas de exaltar o mundo para Cristo. Nesse contexto, ser “agradável” é a mais importante virtude do cristão pós-moderno. Cristão são exaltados, e pregadores derribados, simplesmente pelo crivo de “é amigável”, ou “é ofensivo”.

O que ninguém parece perceber é que ser “agradável” não é uma marca do cristão fiel. Cristo foi agradável? Certamente. Cristo foi ofensivo? Muitas vezes. Cristo foi crucificado não por ter pregado o que as pessoas queriam ouvir, mas por ter pregado o evangelho. E o evangelho ofende, o evangelho condena, o evangelho mostra aos homens o que eles são e do que eles precisam.

Nunca existiu um tempo em que “os cristãos” mais cobrassem que você, como cristão, os agradem, e simplesmente não o ofendam. Mas que seria de Paulo se seguisse esse conselho? Que seria do apóstolo Pedro? De João? Não haveria óleo quente para nenhum apóstolo. Se todos os apóstolos seguissem a teologia moderna da “agradabilidade” não existiriam mártires, não existiria Patmos, não existiria cruz.

Como o próprio Nando Moura coloca, somos os “cristão jujubas”. Não sei se foi a intenção do Nando, mas esse termo tem uma importância na história da teologia. Um dia, um dos maiores pregadores do evangelho, falou sobre isso. Charles Spurgeon disse que Jesus nos chama para ser o sal da terra, e não o “docinho”. Cristo não quer Cristãos “jujubas”, agradáveis. Cristo quer cristãos fieis.

É óbvio que tentarão exagerar o que eu disse. Não digo que os cristãos devem ser mal-educados, ou propositalmente ofensivos. Eu mesmo iniciei este texto dizendo que discordo dos xingamentos. O que não pode acontecer é essa crença satânica de que o cristão deve sempre ser a jujuba do mundo.

Preciso ser enfático, entretanto. Esse costume de nunca tentar ofender não é algo que vive em sua força apenas no cristianismo, ele faz morada na igreja cristã. Eu disse acima que pensa-se geralmente no cristão como aquele que nunca ofende, e concorda com todo mundo, que sorri pra tudo, e deixa tudo acontecer, que não condena o erro e permite que o mal prospere. O problema é que essa ideia é mais defendida na igreja que no mundo.

Os cristãos estão se espelhando na ideologia mpbista. Aquela coisa bem pós-moderna de afirmar algo, e logo depois falar que não se tem certeza. X é igual a Y, ou não… Jesus é Deus, ou não…

Em tempos antigos, sabia-se se você era cristão, ao você morrer no coliseu; em tempos idos, sabia-se se você era cristão, quando você professava crer na verdade de Deus e se colocava contra o mundo; hoje, sabe-se se você é cristão se você concorda sempre com o status quo. Faça a tentativa, discorde de alguma ideia corrente, simplesmente discorde, e tente defender sua opinião citando artigos, e livros que leu. Você será taxado de prepotente, ignorante, fascista e mal-educado.

Por quê? Porque você acredita. E no cristianismo hoje, acreditar é não crer.